Adolescentes infratores e ex-presos terão formação em empreendedorismo

Multa trabalhista vai garantir capacitação de 30 jovens em medida socioeducativa e 25 adultos egressos do sistema carcerário, em busca de oportunidades

A partir deste mês, 65 jovens que já cometeram algum tipo de infração e adultos com passagem pelo sistema carcerário darão um importante passo para mudar de vida e se inserir no mercado de trabalho. Eles participarão do projeto “Empreendendo Caminhos”, financiado com recursos de multa trabalhista aplicada a sindicatos e destinada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT-RJ) à iniciativa. O objetivo é capacitar pessoas do Rio de Janeiro em situação de vulnerabilidade para que se tornem empreendedores ou consigam vagas no mercado de trabalho.

Vejas as fotos da aula inaugural.

Morador da Penha, M.V.C, 17 anos, que hoje cumpre medida socioeducativa por furto e é reincidente, vê no projeto uma chance de recomeçar. Ele conta que foi influenciado por amigos, queria ter roupas e tênis de marca e, com isso, acabou trilhando o caminho errado. “Percebi que não vale a pena, é uma ilusão. Quero mudar de vida e esse projeto vai ser uma grande oportunidade, para que eu possa sair, terminar meus estudos e, quem sabe, até abrir meu negócio”, comemora. Ele diz que no futuro pensa em gerir uma padaria ou pastelaria e acredita que o curso vai ajudá-lo nessa empreitada.

O “Empreendendo Caminhos”é realizado pelo Centro de Integração Social – Uma Chance (CISC) e conta com o apoio do Instituto Pereira Passos (IPP). Segundo a gestora do projeto no CISC, Erica Mara Santos, a entidade recebeu 153 inscrições de jovens e adultos. Os candidatos passaram por um longo processo de seleção, composto por entrevista e dinâmica de grupo, em que eles foram estimulados a vender o impossível, como um terreno na lua, pasta de dente sabor alho, revista de moda para freira, entre outros.

Ao final, 30 adolescentes que cumprem medida socioeducativa em meio fechado no Educandário Santo Expedito, em Bangu, e 25 adultos em cumprimento de regime aberto ou liberdade condicional, atendidos pelo Patronato Magarino Torres, em Benfica, foram selecionados. “Quando vemos que as pessoas que passaram pelo projeto não reincidiram, é o resultado do esforço de todos nós”, afirmou Ronaldo Monteiro, vice-presidente do CISC, na aula inaugural realizada na última quarta-feira (9/3) nessas duas unidades.

Os selecionados irão participar de aulas duas vezes na semana. As oficinas serão divididas em partes teóricas e práticas e abordarão empreendedorismo, cidadania e habilidades profissionais. O projeto também vai oferecer atendimento psicossocial a todos os participantes e suas famílias. Por isso, a expectativa é de que cerca de 200 pessoas sejam beneficiadas, ainda que indiretamente, com essa formação.

“O grande objetivo desse projeto é devolver a autoestima dessas pessoas, de forma que elas tenham uma formação, consigam encontrar um emprego ou abrir um negócio, em um mercado onde, infelizmente, ainda há muito preconceito”, afirma o procurador do trabalho João Carlos Teixeira, responsável pela destinação dos recursos. Para o procurador, a capacitação e a inserção profissional, além de beneficiar os participantes do projeto, ajudam a reduzir os índices de reincidência na criminalidade. “A sociedade tem que ter consciência da importância de se investir em um sistema carcerário que recupere as pessoas, pois hoje ele é negligenciado”, completou.

M.E.C, de 34 anos, é uma das alunas do projeto. Ela, que já cumpriu cerca de seis anos de pena por tráfico de drogas, conta que está há três meses em liberdade e enfrenta dificuldades para conseguir um emprego. “Cheguei a ser aprovada em todas as fases de uma seleção e me recusaram dizendo, na frente de todos os candidatos, que eu tinha um problema judicial”, lamenta. Ela, que mora em São Gonçalo e tem duas filhas, conta que luta diariamente para conseguir um trabalho, mas enfrenta muito preconceito. “Quando uma porta se fecha, muitas erradas se abrem, e temos que lutar, pois a mudança depende de cada um de nós. Tenho esperança de que, com esse projeto, a sociedade nos olhe de forma diferente”, afirma.

Ela participará das aulas no Patronato Magarino Torres, que atende cerca de 9 mil homens e mulheres em regime aberto, domiciliar, liberdade condicional, prestação de serviços comunitários, entre outros. As aulas serão todas as terças e quintas, das 9h às 11h, durante três meses. O curso será voltado a práticas de mercado varejista e embelezamento automotivo. A ideia é que eles saiam empregados em alguma das empresas parceiras ou abram o próprio negócio, segundo o vice-presidente do CISC.

Já no Educandário Santo Expedito, em que cerca de 400 adolescentes cumprem medida socioeducativa em meio fechado, as aulas serão realizadas às segundas e sextas-feiras, das 9h ás 11hs, para duas turmas de 15 adolescentes (30 no total). A oficina será de design de cabelo, tema escolhido pelos próprios adolescentes, sendo que toda a formação terá duração de seis meses. “Não podemos perder jovens inteligentes e talentosos por falta de estrutura. Por isso a importância de se investir em educação, para que eles tenham direito à escolha”, afirmou João Carlos Teixeira na aula inaugural.

O custo total da capacitação será de R$ 205 mil, sendo R$ 180 mil oriundos de multa trabalhista destinada pelo MPT-RJ e outros R$ 25 mil aplicados pelo CISC. Os valores servirão para custear transporte para os participantes, lanche, cesta básica que será oferecida à família de cada inscrito, além de material didático e outros gastos administrativos. Saiba mais.

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Tags: capacitação, adolescentes em conflito com a lei, mercado de trabalho

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