Indenização trabalhista contribui para qualificação de 2.000 jovens no Rio de Janeiro

Projeto Casa Futuro Agora, financiado com recursos destinados pelo MPT, capacita jovens de comunidades e unidades de internação para o mercado de trabalho

Cerca de 2.000 jovens de comunidades e unidades de internação do Rio de Janeiro serão atendidos por projeto de capacitação financiado com recursos de indenização trabalhista. A iniciativa é resultado de parceria entre a ONG RioSolidario, o Ministério Público do Trabalho (MPT-RJ) e a Cedae. Durante um ano e meio, aulas de informática, inglês, poesia e audiovisual serão ministradas em 11 pólos do projeto, localizados em nove comunidades e duas unidades de cumprimento de medidas socioeducativas.

De acordo com Luíza Teixeira, coordenadora do projeto Casa Futuro Agora, no RioSolidario, os cursos trabalham habilidades necessárias para o mundo de trabalho com o objetivo de contribuir para a vida profissional futura. “Nas aulas exercitamos o trabalho cooperativo, a independência e a autoestima. Dentro das comunidades e da situação de alta vulnerabilidade desses jovens, são habilidades importantes para que tenham maior chance de se inserirem no mercado de trabalho”, explica a coordenadora.

Na última segunda-feira (20/6), 23 jovens que participaram do curso de poesia falada, no pólo de Urucânia, no bairro de Santa Cruz no Rio de Janeiro, fizeram um recital e receberam os diplomas. Daniel Arruda Aguiar, de 12 anos, um dos formandos, se emocionou ao recitar um poema que falava sobre amor. “A poesia nos ajuda a interpretar o que estamos falando, entendemos melhor os textos, perdemos a vergonha”, explicou.

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Para a poetisa e atriz Elisa Lucinda, idealizadora do projeto, a formação contribui para a formação dos jovens como cidadãos. “A palavra empodera o cidadão, pois o faz conhecer seus direitos. Infelizmente, falta ao brasileiro esse acesso à poesia que abre o canal das emoções”, afirma. Larissa Nunes, de 17 anos, sabe bem o que é isso. Ela conta que sempre achou poesia algo chato, pelos textos longos, e depois de fazer o curso apaixonou-se pela literatura. “A poesia me fez aprender a falar com a pessoas, além de contribuir com minha vida profissional. Quero continuar me dedicando, fazer mais cursos, teatro e levar a mensagem da poesia para a humanidade”, comemorou, ao receber o diploma.

Projeto - A iniciativa é financiada com cerca de R$ 5 milhões oriundos de indenização por dano moral coletivo paga pela Cedae em Ação Civil Pública (ACP) ajuizada pelo MPT-RJ contra a companhia, por terceirização irregular. As atividades começaram em abril e são ofertadas em 11 unidades espalhadas pelo Rio de Janeiro (Campinho, Cordovil, Novo Degase Ilha, Novo Degase Penha, Gardênia Azul, Manguariba, Prazeres, São Carlos, São João, Sepetiba e Urucânia). A ideia é capacitar jovens entre 12 e 17 anos, para garantir a inserção digna no mundo do trabalho.

As aulas são ministradas pela Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh), Associação Sequoia Fundation, Associação Cidadela e Casa Poema. Todos as unidades ainda contam com acesso gratuito à internet para toda a comunidade. Além disso, após o término das turmas regulares, jovens que se destacaram na formação serão convidados a participar de um curso para instrutores, de forma a multiplicarem o conhecimento adquirido em suas comunidades.

O jovem A.S., de 17 anos, que está internado no Novo Degase Ilha, foi um dos jovens atendidos pelo projeto. Ele participou do curso de poesia falada e, na formatura, realizada no último mês, apresentou duas composições musicais de sua autoria, uma escrita em homenagem à mãe e outra ao irmão. “Perdi minha família nessa vida de ilusão do crime e comecei a me interessar pela música que começou a fazer parte da minha vida. Se me sinto alegre, faço música. Se me sinto triste, faço música também”, afirma. No curso, ele conta que aprendeu a se expor mais e perder a vergonha. “Também me incentivaram a continuar fazendo o que eu gosto. Quando sair daqui, quero registrar todas as minhas músicas”, afirma o jovem.

Uma das músicas, A.S. conta que fez para a mãe, falecida em 2014, como uma forma de retribuir e agradecer por toda a dedicação. “Mesmo com toda a dificuldade que passou, ela nunca nos deixou faltar nada”, conta o adolescente, que teve outros oito irmãos. A outra canção fez quando já estava internado e viu um dos irmãos chegar à unidade. “Estou dentro da cadeia junto com meu irmão, o pensamento de mudança tomou posse de mim, acreditando que o sofrer um dia ia ter fim”, afirma a letra da canção.

Clique aqui para ouvir entrevista com o jovem na Rádio MPT.

Ação judicial - O projeto resulta de acordo judicial firmado na Ação Civil Pública (ACP-0101200-03.2004.5.01.0052), em que o MPT-RJ requer que a Cedae respeite a regra de contratação via concurso público, substituindo terceirizados por concursados. Em 2011, a Cedae firmou acordo com o MPT, homologado pela Justiça Trabalhista, se comprometendo a regularizar a situação e a pagar indenização pelos prejuízos causados à sociedade com a contratação irregular. Do montante total, cerca de R$ 5 milhões, em valores atualizados, foram destinados ao projeto Casa Futuro Agora, para capacitação profissional de jovens, e outros R$ 4 milhões depositados no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).


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Tags: indenização, qualificação

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