Comissão da Verdade da Escravidão Negra pede apoio a consulado americano para aprofundar investigação

Parceria busca facilitar acesso a documentos e pesquisadores dos Estados Unidos que realizaram estudos sobre o período escravocrata brasileiro

O presidente da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Rio de Janeiro, Marcelo Dias, vai solicitar apoio do consulado americano para trazer ao país pesquisadores da Universidade de Emory, em Atlanta, responsáveis pela realização de um amplo estudo sobre o período escravocrata brasileiro. A ideia é que a pesquisa contribua com os trabalhos da Comissão, instalada na última semana, que vai levantar a história e a memória dos 350 anos de escravidão no estado, com vistas a encontrar formas de reparação.

Parte do estudo promovido por pesquisadores da Universidade de Emory foi divulgada pelo jornal O Globo, no último domingo (5/4). De acordo com a publicação, o amplo banco de dados criado pela instituição reúne registros portuários feitos ao longo de três séculos e meio e será traduzido, em breve, ao português pela Casa de Rui Barbosa. De acordo com o levantamento - que tomou como base documentos coletados em diversos países, como EUA, Inglaterra, Brasil e nações africanas - cerca de 2 milhões de escravos chegaram, entre 1500 e 1856, ao Rio de Janeiro. O estado foi a principal porta de entrada de navios negreiros no Brasil.

O pedido de apoio ao consulado americano, para trazer os estudiosos ao Brasil foi decidido em reunião realizada esta semana, no Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ), que também integra a Comissão. De acordo com o procurador do trabalho Wilson Prudente, que é membro relator do grupo, o objetivo é que o trabalho da Comissão resulte em modalidades de reparação desse crime cometido pelo Estado, seja a partir da criação de um fundo destinado a políticas públicas de igualdade racial, seja a partir da construção de monumentos ou museus que retratem a história do período. “Além disso, é preciso que haja um pedido formal de desculpas do Estado brasileiro pela prática desse crime”, destaca Prudente.

De acordo com Marcelo Dias, o apoio de órgãos de representação internacional é fundamental para enriquecer o trabalho da Comissão. Segundo ele, o consulado de Angola já demonstrou interesse em auxiliar nos trabalhos do grupo, com o objetivo de aprimorar o resgate histórico sobre o período escravocrata no Brasil. Segundo ele, além de levantar bibliografia sobre o tema, a Comissão Estadual planeja organizar ainda este semestre uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e outras nos municípios do estado. Também serão feitas visitas a terreiros, comunidades quilombolas e universidades que estudam o tema.

A Comissão, conduzida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Rio de Janeiro, faz parte da Comissão Nacional criada no final de 2014. O grupo vai levantar as responsabilidades pelo trabalho escravo no Brasil e fazer um resgate social da contribuição negra a partir de pesquisa sobre episódios pouco conhecidos. O objetivo, com isso, é responsabilizar os beneficiados com o regime de exploração e buscar uma forma de reparação aos que ainda hoje sofrem as consequências do período. O levantamento feito pela Comissão da Verdade da Escravidão Negra servirá de referência para pesquisas na área e subsídio para o desenvolvimento de políticas públicas.

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Tags: OAB, Wilson Prudente, Comissão da Verdade da Escravidão Negra, trabalho escravo

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